Pearl

Fada
Sereia
Bruxa
Pombogira
Cigana
Rosa
Serpente.
Estrangeira
Sorriso
Brilho
Intensa
Mente
Em paz
Voa.

Céu 
Lua
Elétrica
Semente
Mar
Beleza
Leoa.
Pantera
Guerreira
Flor
Presente
Alma
Boa.

Passará

Não nos olhos
Mas no olhar
No sorriso que dança
Entre rosas 
E roxas luzes
Em câmera lenta
Meu coração não aguenta
Tamanha doçura
Agridoce
Tortura 
Ainda não vi seu cheiro
Mas toquei seu cabelo
Entendi sua calma
Ouvi sua música
Te vi voar.

Pirapora Terra

Eu sou o peixe
Do teu morro
Voando 
Contra a maré

O pulo
E o mergulho
Origem e desistência
Fim é outra coisa

Trago trinca que perdura
Âncora da tua lisura
Proteção da tua estrutura
De São Jorge espada que aglomera
 
A terra
Base que fissura .
 
MG/2016

Grafite e cante

Você almeja
Ousar
Fugir
Ou amar? 

Ama o que almeja
Busca ousadia
Ou foge do amor?
Almeja-se
Quem sabe

No final se encontra
Digo, consigo depara
Confusa
Fitando o presente
Pergunta
O que foi?
Calma...

O grafite responde
Quando não no muro
No papel
De alguém que rabisca
Com alma.


Mira

Por sentir volto
Já não faz sentido  
Ver o céu da mesma janela
Então
Volto a ideia 
De partir
 
Quando sinto que é hora
Deixo tudo na mesa
Ai de quem apostou 
Que eu ficaria
A mercê de apostas
Não.
 
Dois clicks
Corações vermelhos
5 segundos de atenção
Em busca de sentido 
Sorrindo em fuga
 
Prefiro
Doce ou atroz
O fardo farto do destino
Farto de abundante
Prospero de sempre
Mutual.

O motor da geladeira

Parado!
O que faz aqui?
O que te fez explorar as bandas cá?
Jeca Tatu flaneur
Do modo que anda
Ao movimento do olhar

Acelerados!
Ante ouvidos tapados
Jorram fios
Olhares concretados
Fixos no chão
Em que abre caminho.

O som do ir e vir
Da rede
Elétrica
O cricrilar do giroflex
Batida de panela
Alarme disparado
Ronco de mulher

O motor da geladeira diz...

SP/2015

Sussurra que sou sua

Olha, eu sou igual a você
Mas vou esperar lá fora
Aqui dentro ainda existe
O cheiro do perfume
Que ficou na minha boca
Você me olhou enquanto eu te via
E desviei
Falei do drink, da lua
Respirei
Fundo 
Mas foi tarde demais

Nossos corpos estavam perto 
Nossas retinas já estavam no escuro
Peitos se tocavam 
Inundava a boca
E desviei
Falei do signo, da sua voz
Da América do Sul...
Com a voz não disse
Com os olhos entreguei
Quis que visse
O que ainda não falei.

Certos medos

Escrevo
Porque tenho medo.
Quem escreve tem medo.
De sumir
Sem ter dito
De ter vivido 
Apenas
Bebido as linhas
No embaraçar dos dedos
Que batucando sobre a mesa
Aguarda num estalo
Algo mais profundo
E verdadeiro
Como o erro.
 

Leia-me

Pensamento longe
Rua vazia
O santo cuida
Porque as vezes me esqueço
Me Perco
Viajo em poesia
Voo.
Quando chegar em casa
Vou tomar um banho quente
Um chá quente
Beijo quente
Abraço quente
Para esfriar a cabeça.
Sinto que a chuva
Me entende
Que a luz me ouve
E a cama
Chama.

Doce

Talvez eu suma a ponto de não mais me encontrar. Tome todas tentando tomar um rumo e esqueça do sabor suave do seu beijo pelas tantas informações que se deparam no meu caminho e me separam do que desejo. Eu desejo a ponta da sua língua em qualquer lugar de mim, mesmo que seja rápido e sem sentido. Meu delírio se desfaz cedo o que tão tarde veio me dizer sim. Te adoro com a força do pensamento que do corpo eu já não sei se devo, são tantos sentidos despertos, se te abraço tudo some, inclusive eu.

Ela passou

Segui a pé
Para os caminhos se abrir
Colhi flores da noite
Era amarela
E me distrai
Com o carnaval 
Colorido de um hotel
Ela passou
Nem vi
Ouvi?

Éter


Para todos os amores: 
Sua presença guardo no meu coração. Seu rosto está registrado na minha vida, acariciado por minha gratidão e pelo meu afeto. O tempo gerou o nosso encontro, cruzou nossos olhares, lapidou a minha calma e bate tambor para nossa dança. Eu falo de imensidão, além dos elementos, do que o tato não alcança. Que minhas humildes orações possam nutrir nossa passageira existência. Até onde nossas almas consentirem eu estarei. Germinando. 
 
01.07.2017

Ventura

Atente às pausas.
As pequenas.
O destino se encarrega 
De se apresentar.
Um dia
O que virá
Chegará sim...

Cerrados

Nem castanhos
Nem azuis
Nem verdes
Cerrados.
Punhos
Olhos
Cerrados
Sorriem os olhos
Cerrados
Coração
Cerrado
Vento alado alado alado
A Pedra Branca será
Da juventude
Que será da juventude?
Que será das abelhas?
Salário
Serrado
Mínimo esquerdo serrado
Bucho serrado e foi pouco
Eles não representam
Amazônia, caatinga, mata atlântica,
Pântano, pantanal, pampa
Nem cerrado.

Uma lamento a mais

Você não me esqueceu
Me procura em tudo
Os lugares te lembram
Até as árvores falam
A distância mostra
Que estou dentro
Mergulhamos
Outros ficam na areia
 
Não se afogam
Mas não se molham
Uma voz que te cala.
Daqui de dentro
Encontro o que nem existe mais
Daí,
Você se encontra
No que não existirá.

Inerestelar canoa

Para onde vou 
Te transportar
Não há volta. 
Existe o click do presente
Gravado na mente
Ou em álbuns de fotografia.
Para onde vou te transportar
Você vai poder ver 
Tudo
Quando fechar os olhos.

Calor do momento

Quando fecho os olhos

Um cometa de curva 

Cauda corta

Com luz a escuridão

O amor queima 

E amoleço

Meu sol

Você merece todos os

Planetas

Toda poesia

Ria rio

Correnteza.

Monolito que guarda

Minha orientação

Te vejo na lua

Em Vênus

Mercúrio

Na terra fértil

Que escolhi

Para minha alimentação

Eu sou apenas a poeta

A jangada, astronauta

E jardineira

Somos nossa história

Fogo, vento, paixão.

Ponto fraco

Pulso, salto

Pelos delírios que vivi

Lambi a língua 


Babei na saliva

Engoli


Lascívia


É real o enigma entre nós?


A esfinge que mirei na ilha 

Da saudade

Que de mim senti,

Desvendei-me,

Retomei minha voz


Estrela vi


Au revoir

C'est la vie

Da brasa à brisa

Da gota que parte do entreaberto peito - descansa num poro qualquer segue entre curva e outra escorre descansa escorre e some na pele - fazer o mar bravio que cultiva a onda que me desmorona a profundezas abissais, pronde todo rio vai anuviado em sal.

Quando a contracorrente se encontra a meu favor, o conhecido se desconhece. Incomum torna-se corriqueiro. Aventura passa a ser o atrevimento de benquerer um jangadeiro que se desata do remo, mana pelo curso evidente do rio, afluente, porém sem paradeiro.

Contracorrente é ciclo sem fim como vento que junto a terra leva a água que lava a gente que da terra não leva nada.

Eclípse marinho

Rebento
Entoada pelo ventre vocal
Da minha mãe Iara
Mulher facho
Clarão irradiado
Por minha vó Luzia
Ainda luz como fazia
As duas: Marias

Eclípse de mar aluado
Sirênica, alumiada
Água é docel da cama dela
Sou fruta
Do silêncio letal
Da sereia mais bela

Outoniço sono

Dos inícios de outono

Este me virá a mente

Ainda que

Longe 

Latente 

Sei que sua

Cama

Provavelmente

Exala a falta

Que seu corpo

Do meu sente

 

Seu olhar poente

Quando já cadente

Sua vigília tomo

Quando nos seus braços?

Tanto nos meus sonhos...




Além dela

Sendo eu
Particula de poeira
Circundada pela contraluz do céu
E a silhueta da Mantiqueira:

O que tem por trás da serra
Que todo dia
Estampa minha janela?

Sob o sereno

Ao desviar o olhar do caminho em que vinhamos, tua chegada foi como ventilação cruzada em sala vazia: alvoroçam-se cortinas, debatem-se janelas, vento rodopia, queima, gela. Em pouco tempo todo vago preenchia.

Que teu sagrado anuncie mais e mais a espiritualidade das cores cambaleantes e reluzentes que você tem na ciranda dos meus pensamentos. Sua voz é um floral sonoro, meu amor. Seu rabisco esquenta minha orelha e liquefeita te entorno enquanto minas e aguardo na fundura do meu eu. Sou seu ser, esculpida para te abrigar.

Semi-dia

Hoje o dia amanheceu proferindo flashes de luz sua. Seu nome veio tão forte quando acordei que ao perceber sua ausência, em delírio achei que o dia havia acabado e na verdade eu estava indo me deitar.

Pirajá

Impermanência
Rebenta da incoerência
Que desejos interrompidos tem
Vem e vai inesperadamente
Ensopa, devasta
Parte
Atrás de outra vertente

Olha Pirajá
Quando diz
Que me molha
Porque não choro
Saiba
Eu derramava
Mil cantis de pranto
Enquanto você chovia

Vento e cortina

Sol
Velho curandeiro
Marca o passar do tempo
Como o lento movimento
Das cortinas que balançam
Quando as vento

Bloqueia como pode
Mas quando sopro
Ela dança
Quando sambo
Ela bossa

Vou a bordo
Da renda que a rebordeia
Dançando se rende
Flutua enquanto entro
Brinco e parto

Onde há fogo
Espalho
Se ela gosta
Eu paro

Posto que o sol
Velho curandeiro
Cora cinzas
Que espalho



 ÁUDIO 

Leitmotiv

A posteriori
O timbre que te retrata
Nem é o do violão.
De samba
Não tens nada
Nem de bossa
Nem de baião.

É o contraponto
De uma fuga
Mal tocada.
Dissonante percussão.
Allegro marcato.

Vem na cadência
De allegretto.
Sai num largo
Fado.

Saiba portanto,
Grande acidente:
O tempo,
Quando paciente,
É bequadro.


 ÁUDIO 

Tomara

Quando do teu olhar,
Rudemente,
Algo dócil
Vir a tona,
Dos teus beijos
Docilmete rudes
Virão ematomas
Ao passo que entorno
Teu veneno escorrendo
No canto da boca
Que me toma
O brio,
O frio,
O recato
E a roupa.

Finge dor

O olho mareja
A boca salga
E a mão dormente
Contém.

Quem mareja
Inda corre
A poesia falha que
A que dorme
Detém.

Até que,
Folha a fora,
Molha o olho nu
E desembaça o texto
Ilegível agora
Por meu choro

Convés

Dizem que quando,
À beira-rio,
Incendeia-se
O corpo,
A água
Que a lua
De luz esguia
Clareia no porto,
Canta
Que nem sopro
De vento afoito.

Camba-te o dorso
Largo,
Apoiado em cadeiras
Sentadas,
Em pernas trançando
Traçando,
Palavra na areia
Com os pés:

Uma pena não ver meu navio
Enquanto piso o convés.

Riso preto

Quero que voas
Como o vapor
regozijando
Em vales de amor
Até que um sussurro
no ouvido
Sejam frases
Da alma.
Quero que
Munida de coragem
Salte
E o voar
Te invada em vida.
E então,
Iremos.

Quando fores,
Quero que te encontre
E se encontrando,
Que te façam bem.

Desejo que sorria
Como sorri.

Singular falado


Pra quando bater preguiça de ler:

https://soundcloud.com/crysmarques/sets/singular

Refuga

Me espanta a facilidade
Com que você vai embora.
Tão fugaz que soa fuga.

Me poupe desse espanto.
Recuo basta
Para tanta recusa.

Doravante

Por fim,
Eis que surte surto
Depois do susto
De se abster de um vicio antigo
E se embriagar de lucidez
Que supre o não poder,
Que poda o apetite
Que não se pode ter.

Eis que sute surto
Dentro de mim.

E assim
Cheia de descuido
Cheia de pôr fim
Em tudo que não há
Findo.

Contudo

Quantas vezes estanquei
O sangue da tua alma aberta
Matei tua sede
Curei tua dor
Te costurei
Quando sentias rasgada
Da cabeça aos pés

Agora
Já curada
Tu me rasgas
Me dói
Me abre
E não cede

Quem olha tua ferida
Hoje já fechada
Não sabe donde
A linha alinhavada veio

Nem onde o vazio
Da tua veia lacerada vaza.

Sofisma

Foi melhor
Não sentir teu cheiro
No vento que a porta faz
Quando fecha
Para não abrir mais;
Nem levar abraço;
Nem deixar apego;
Nem olhar pra trás.

Foi bom
Teu menoscabo
De quando fui
Querendo ficar.

Tua boca
Não vale o passo
Que dirá meu caminhar.

Rogo rouco

Ando lembrando sem poder
Do teu poder sem permissão,
Do abraço cheio de mãos,
Das premissas sem conclusão.

Sinto ainda o frio que fazia.
Da poesia e da barriga fria.
Sinto ainda
O que sentia sei lá quando.

Ando lembrando
Do quanto eu queria.
E sem poder;
Sem permissão;
Sem abraço;
Sem mão;
Ainda quero os olhos
Sob os quais eu diria:

Sei que vou
Me arrepender um dia,
Mas quando bater na porta
A dona agonia,
Peço-te só mais um olhar
Daqueles de fotografia.

Finito

É menina...
Acabou o luzeiro
Mas acabou a dor.

Foi embora o gosto,
Levou pra longe o cheiro
E o dom de me enlevar.

Não tem o mesmo som
A voz que me entorpecia,
Olhar que eu tanto queria.

Se já não é como antes,
Ou deixei de ser miragem
Ou deixaste de ser mirante.

Cinese

Já nem sei mais
Em que cais deixei meu corpo,
Nem em que porto deixei minha paz.

Absorta, noto-te quando
Em meus devaneios cais
Bordando lágrimas em meu rosto.
Sem gosto, logo sais.

Levaste o brio
Desta têz costurada com tristeza.
Deixaste rastro de sombra
E memória rasa.

Em todo corpo que lembra,
Há olho que vaza.

Modorra

O afago na cama
Tem o pé no pecado.
O afã quase acre
Ruma num prado
O berço de rama.
Cala esticado.

Poucas palavras permeiam
Um mutismo picado;
Um silêncio inquieto
Depois do riso letargo
Que ecoa
De canto em quina,
Do chão a sanca do quarto.

O afago na cama
Cala esticado.

Epílogo

Falo da morte do amor
Ao corpo que vive
Porque a morte do corpo
Na presença do amor
Reclama força,
Bravura e tento.

Enquanto te desejam força,
Eu te ofereço ombro
E te desejo tempo.

À meia luz

E de amar Senti úmida
De choro, suor
E o que mais imaginar

Faz falta alagar teus poros
Portanto eu lhe imploro:
Não me faça esperar.

Fôlego


Há, talvez, no mundo alguém responsável por esconder pessoas de beleza completa. Há em nós a dificuldade em encontrá-las e, nelas, facilidade em te conseguir. 

Reza a lenda que tais criaturas te olham no olho com a mesma fundura do poço em que te encontras e tem boca que chama sem se quer se abrir. O cheiro te invoca ao passo que é dado teu passo primeiro. Quanto mais perto da pele, mais o calafrio te esquenta e mais arrepio rebenta se o passo é terceiro. A pele alva é alvo da doideira que beira desbrio, se houver toque, haverá choque, mas não há de haver mais frio. Dizem que o corpo de tais criaturas é deveras perfeito como seu lábio quente e macio. 

Pode ser que não tenha mais volta e você nem vai querer voltar.

Reza a lenda que tal criatura te prende no peito de um jeito tão cômodo a fim de te ouvir pedir pra não te soltar. E você fica.

Criado mudo

Não quero mais levar no peito
O erro de quem não soube criar.
Se o criador não soube dar jeito,
Além da causa, dê a ele o efeito,
E tira de mim o peso
Deste falso dever de suster,
De carregar.

Se o criador foi quem criou
A dor da cria,
Não me interessa a intenção,
Não importa no que eu cria,
Não preciso de um guia,
Tampouco explicação.

Ação, dor e cria.
A dor se uniu a Cria
Pela ação do criador.
A ação se uniu a Cria
Pela dor da criação.
A ação se uniu a dor
E criou a adoração.

Finda esta tortura.
Quem surgiu primeiro
Criador ou Criatura?

Afilar-se

Lugar é tudo aquilo que tem chão
Não há chão onde eu quero estar

Não há lugar pra mim
No lugar onde tem ar

Não há chão
Não há lugar

Nem ar
Não

Escâncara

Talvez esteja nos teus olhos a beleza que me perturba
E tua boca seja a causa da saliva que me vem
E só de te ver me vem o gosto da rotina
De me ver refletida na retina que me retém.

Mal de água salgada

Difícil é amar a quem ama ainda mais o mar.
Não deixa de lado o ensejo de te fazer chorar,
Só para depois te dar um beijo
Roçando a água salgada,
Fingindo se afogar.

Qui è tutto

Quietude.
Que tudo aqui é alegria,
E a destreza da tristeza
Não cabe neste dia;
Não se serve nesta mesa.

Verve

Perguntou de onde eu vim.
E eu disse:
Sim, mergulhei no Gim
E meu hálito é de poesia.

Não lembro quem,
Mas me disseram um dia
Que a mulher não foi feita para a noite,
Muito menos para a boemia.

Tolice essa
Que me obriga dizer que
Antes de mulher,
Amigo do mundo das mulheres do dia,
Fui poeta.

E se a rua me chama
E me tira da cama a lua da noite fria,
A culpa é de quem me deu
A condição de fazer poesia.

A culpa é tua.
Não é minha.

Zine OrFEL

Singular, com o poema "Nós" e Radik, à teu dispor do amigo Renan Moreira da banda Havana daqui de Poços com o poema "À minha lua", representando o Coletivo Corrente Cultural na primeira edição do Zine OrFEL do Portal Fora do Eixo. Entre 100 trabalhos inscritos, 14 foram selecionados para circular junto ao Grito Rock 2011 pelos 130 pontos onde acontece o maior festival integrado da América Latina.




Debrum

Entre laços e fitas
Me fita feito
Puta de bordel

Entrelaça e me evita
Pinta
Borda,
Me cobre com véu

Depois me rasga
O talho,
Cobre de fel

Passa de Maria a Madalena;
De passamanaria
A nó de juta
A rameira
De açucena.

Desce saia
Tece fim
Ter sido trapo
Me fez tecido de cetim.

Coa vida

A alegria nunca passa
Na peneira do dia
Que a gente coa?

Silêncios precedem gritos
Que procedem de outros
Que ainda ecoam;

Noética

Não é ético Tratar como noético Coisa tão sentimental. Seria tão cético Quanto o crente Que reza o credo E ouve o sermão, Mas não sabe da cripta, Só do frontão. Não é ético Dizer que é estético O que eu sinto
Só porque exprimo
Com as mãos.
Nem vir me falar de indolência
Enquanto luto
Por esse afeto estulto
Que, inclusive,
Não me assusta
Se me disser não.

Mas não é ético
Ir sem dizer nada;
Alada num céu de imensidão.
Como se calada,
No meu papel te fizesse borrão
Não!

Quero-te cálida;
Em carne e osso;
Quero teu rosto
Roçando meu pescoço
Na manhã pálida.

Não é ético
Me fazer instar
Nem hesitar meu amor por incompreensão
Não obstine!
Por mais que ele seja insosso,
Não te fará esboço
Em meu moleskine
Não é ético
Fazer querer-te
Enquanto incrédula;
Enquanto razão;
Enquanto impecável.

Do excesso

Do excesso de pensamentos se chega ao excesso de sensações. Desse excesso de sensações, a necessidade de expressão. E assim, depois de tanto sacolejo e briga contra a maré, ou se naufraga na razão ou se atraca à arte. Atraquei-me para não ficar louca e escolhi a palavra e o som como cais. E você, o que faz?

Saudade

O que é, o que é
Que aborrece meu coração
Emburrece minha mente
E enrubesce minha face?

Ah se você soubesse...
Veria que invadir a minha mente
E mentir para o que aborreces
Não é coisa que se faça.

Em burras terras de amadores
Amador sempre é derrubado
Profissional vive deitado

Mas acontece
Que quando o dia anoitece
A lua sobe e o sol desce
Quem tá deitado
Fita o teto
Olha o vago
Pranteia quieto.

Mas depois vira pro lado
Dorme que nem feto
Padece, padece, padece
Emburra
Mas depois esquece.

O que é, o que é?
Começa com S

Prólogo

Meu olhar percorre os sulcos
Do teu rosto quando ri
Serena o que me inquieta
E quando inquieta me faz rir

Meu olhar percorre os trejeitos
Da boca cheia de lábios
Que sem falar me chama
Roço nos ouvidos que me entende
E já muda
A voz ainda me afana

Farejo a venta dona do olfato
Que percorre minha têz
Ao meu olhar, de fato
De torpor
Já não tenho mais o tato
Nem sei o que dele fez.

E se a essência fosse rotina?

Depois de contemplar lua e estrelas
Engastadas em tamanho breu
E ler Drummond
À beira do fogão
De lenha não mais acesa
Mas ainda quente

Eu dormiria ao som
Do cricrilar dos grilos
Meu sono seria leve
E me traria paz

Meu despertar se daria
Pelas tesourinhas e sabiás
Que cedo
Põem-se a cantar
Cada dia mais vivaz

Na mesa
Manteiga e pão
Leite e café

Selaria o Diamante
Cavalo preto como a noite,
Como o breu que eu contemplara
E sairia galopante

À deriva do mundo
Esquivando de galhos
Que me machucavam
E em meio galhofas e carinhos
Seguiríamos de volta o caminho

Preciso trabalhar
Arar a terra
Colher, plantar
Vender o queijo
Tratar dos bichos
Coisa corriqueira
Inadmissível tardar

A tarde veria o sol se pôr
Com banho de cachoeira
Tocaria Milton
No meu velho violão
Em volta da lareira

Aveludando a voz
Com geladinho rosé
Antes que o tenro bandô
Da cortina de crochê
Me acordasse
Do cochilo na poltrona
Que desperta a soneira

E eu iria pra cama
Depois de um dia tranquilo
E dormiria serena
Ao cricrilar do grilo
Que ainda soa...

Me seria fácil a rotina
Se fosse assim
Tão boa.

Entre vãos

Entre, loucura!
Entre a sanidade
Há vão que te cabe
E em vãos
Há sãos que não sabem
Quem são
E se vão aos vãos
Entre, sou cura

De fato, confesso
Estou farto da ação
De um ser enfático
Apto a ser inepto
Decidir coisas por mim

Quanta loucura!
Quanta fratura!

Por isso tanto durmo
Enquanto o mundo amanhece
Porquanto me enfurno
Ante o mundo que adoece

Entre, loucura!
Há pagãos melhores que santos
E são tantos!
Veria Deus se tivesse quisto
Que isto causaria o pranto
Quando o santo não fosse visto

A culpa é pouca
Mas é tua, vida
Que me arrotou
Na direção errada
E eu segui a rota
Fui rotulada rota
Desde o ventre da loucura

Quanto sensabor!
Quanta sensatez!
Quanta censura!

Cansei de viver
Entre vãos do mundo oco
Me cansa todo esse sufoco
De um dia cheio de vazio
Culpa do meu desbrio
Rotina de um mundo louco

Sandia
E agora rouca
O vão vocifera
O que você fere, são

E ainda assim
Com todo esse alarido
A vida tem me doído
Não me apetece meio pão

Que seja breve
Mas intensa
Se for doída
Que não seja imensa

Que a vida cesse

Entre também, juízo
O que nos difere
É o que nos fere

Nós

Se eu ousar a musicar
O que tenho dentro do peito
Nesse exato momento
Ouvirá silêncio

Talvez o vazio se esvai pela garganta
Onde hoje, há em mim um nó
Talvez se despe quando se canta
O que já não posso mais

Em minhas cordas há um nó
Que não se desata a mãos
Só se desata só; a mão;
Amando ou não

Afrouxo o laço
A cada palavra que escrevo;
A cada texto que faço

Me desfaço
A cada página que passo.

Desato, de certa forma
Esse nó a mão
Penso...

Mas, se eu ousar a musicar
O que tenho dentro do peito
Nesse exato momento,

Ainda haverá silêncio.


"Paleta" alçou vôo

Paleta, virou música e alçou vôo na voz de Márcio Pombo que com tamanho 
bom gosto musicou e a registrou em voz e piano. Dos motivos que me faz
persistir no Singular.

Márcio Pombo e Os Alagaduns são de Teresópolis-RJ e "fazem um som autoral 
particular, bebendo de diversas fontes. A mágica consiste em agregar ritmos 
brasileiros, influências eruditas, uma pegada rock'n'roll, jogar tudo na cartola 
e de lá tirar um ser absolutamente mutante! (mas que definitivamente tem asas 
de pombo)".

Márcio Pombo e Os Alagaduns no: MySpace | YouTube | Orkut

Tétrico

Deleite estúpido
Escorre pelas mãos
Esvai-se pelo chão
Deturpa a conduta tépida
Em deletéria
O pouco tento que se tem
Finda em pouco tempo
E o que foi até então
Torna-se texto

Paleta

Te fiz sereia em minha tela
Metade minha
Metade do mar
Estarei em mim até tê-la
Depois
Te trarei metade
Que arde tanto ao me domar

Com ar de quem esconde um ato
E rubras faces de amaranto
Pintar-te
E quando, enfim
Meu corpo todo amarar
Em versos cantar-te

Veraz,
Direi então que amo
Verás
Que de modo singular
Se me amo também Amo alguém
Até que farte

Sim, Gullar.
Metade será arte.


Paráfrase de Traduzir-se de Ferreira Gullar

À deriva

Corre, correnteza!
Dessa vez
Vou caminhar
Contra o teu fluxo
Encontra-me
Quando voltar

Perdoe a franqueza,
Mas já sei onde desaguarás
E é fácil fluir a favor do curso
Difícil é manter-se à deriva
Sem nem ter
Com quem contar.

Relatos de reluta ao luto

Hasteei bandeira
A meio-mastro
Pedi silêncio
Mas não por toda vida
Jazz

Sobre Cecília

No fundo
Fera aguerrida
Ata a cilha
Conforme a ferida
E consegue da vida
A sina que quer

Teu excesso
Assevera o sucesso
Que num sopro de vento
É possível cessar

De saída
Aperta a cincha
Inda que o ar
Nao sinta
Pendura o cincerro
Parte
Subindo em altares

E ai de mim
Pobre probo!
Se duvidar
De seus quereres
Haverá desforra:Enfrenta-te
Ou ilha-se

Não vê que sou
Da tropilha
Que te acompanha?
Do jardim
A flor que apanha?
Do andar
o caminho que trilhas?
E porque te acompanho
Amo no entanto?

Por tanto pranto
Quando a decanto
Melhor nem pensar!
Não vês, Cecília?

Carregando

Pelo tempo que respiro
Vidas de preceito vi
A caminho da ruína

Você ainda caminha
Com minha imagem na cabeça
Mas nessa cena
Não sou eu
É a sina
Cria tua

Nunca fui um bom futuro
Meu fardo
É farto de amor pior
De fato
tudo se cura
Com o fado
De se seguir só

E o tempo
Reviro ao relento
Releio o alento quente
No momento
Em que tive
Que te deixar

Nunca fui um bom futuro
Meu fardo
É farto de amor vulgar
Pelo tempo
Que respiro
Sei que esse
Seria mais um
A carregar.

Coleóptero

Por muito tempo a poesia me curou dos dias monótonos e coléricos.
Da nostalgia que em tê-la eu insistia e dos dias de íntima porfia que
vezes me obrigo esquecer.

Como sempre e hoje mais ainda, a lástima é minha companhia que no
mesmo eito de um lasso andar, procura junto a mim a calmaria ou
qualquer leito em que possa descansar.

Grafite

Te olho chorando
De longe
Esperando
Teus olhos de céu

Se longe, te invoco
Se perto, te evoco
Amo só no papel