Pearl
Passará
Pirapora Terra
Grafite e cante
Mira
O motor da geladeira
O que faz aqui?
O que te fez explorar as bandas cá?
Jeca Tatu flaneur
Do modo que anda
Ao movimento do olhar
Acelerados!
Ante ouvidos tapados
Jorram fios
Olhares concretados
Fixos no chão
Em que abre caminho.
O som do ir e vir
Da rede
Elétrica
O cricrilar do giroflex
Batida de panela
Alarme disparado
Ronco de mulher
O motor da geladeira diz...
SP/2015
Sussurra que sou sua
Certos medos
Algo mais profundo
Leia-me
Doce
Ela passou
Éter
Ventura
Cerrados
Nem castanhos
Nem azuis
Nem verdes
Cerrados.
Punhos
Olhos
Cerrados
Sorriem os olhos
Cerrados
Coração
Cerrado
Vento alado alado alado
A Pedra Branca será
Da juventude
Que será da juventude?
Que será das abelhas?
Salário
Serrado
Mínimo esquerdo serrado
Bucho serrado e foi pouco
Eles não representam
Amazônia, caatinga, mata atlântica,
Pântano, pantanal, pampa
Nem cerrado.
Uma lamento a mais
Inerestelar canoa
Calor do momento
Quando fecho os olhos
Um cometa de curva
Cauda corta
Com luz a escuridão
O amor queima
E amoleço
Meu sol
Você merece todos os
Planetas
Toda poesia
Ria rio
Correnteza.
Monolito que guarda
Minha orientação
Te vejo na lua
Em Vênus
Mercúrio
Na terra fértil
Que escolhi
Para minha alimentação
Eu sou apenas a poeta
A jangada, astronauta
E jardineira
Somos nossa história
Fogo, vento, paixão.
Ponto fraco
Pulso, salto
Pelos delírios que vivi
Lambi a língua
Babei na saliva
Engoli
Lascívia
É real o enigma entre nós?
A esfinge que mirei na ilha
Da saudade
Que de mim senti,
Desvendei-me,
Retomei minha voz
Estrela vi
Au revoir
C'est la vie
Da brasa à brisa
Quando a contracorrente se encontra a meu favor, o conhecido se desconhece. Incomum torna-se corriqueiro. Aventura passa a ser o atrevimento de benquerer um jangadeiro que se desata do remo, mana pelo curso evidente do rio, afluente, porém sem paradeiro.
Contracorrente é ciclo sem fim como vento que junto a terra leva a água que lava a gente que da terra não leva nada.
Eclípse marinho
Entoada pelo ventre vocal
Da minha mãe Iara
Mulher facho
Clarão irradiado
Por minha vó Luzia
Ainda luz como fazia
As duas: Marias
Eclípse de mar aluado
Sirênica, alumiada
Água é docel da cama dela
Sou fruta
Do silêncio letal
Da sereia mais bela
Outoniço sono
Dos inícios de outono
Este me virá a mente
Ainda que
Longe
Latente
Sei que sua
Cama
Provavelmente
Exala a falta
Que seu corpo
Do meu sente
Seu olhar poente
Quando já cadente
Sua vigília tomo
Quando nos seus braços?
Tanto nos meus sonhos...
Além dela
Particula de poeira
Circundada pela contraluz do céu
E a silhueta da Mantiqueira:
O que tem por trás da serra
Que todo dia
Estampa minha janela?
Sob o sereno
Semi-dia
Pirajá
Rebenta da incoerência
Que desejos interrompidos tem
Vem e vai inesperadamente
Ensopa, devasta
Parte
Atrás de outra vertente
Olha Pirajá
Quando diz
Que me molha
Porque não choro
Saiba
Eu derramava
Mil cantis de pranto
Enquanto você chovia
Vento e cortina
Velho curandeiro
Marca o passar do tempo
Como o lento movimento
Das cortinas que balançam
Quando as vento
Bloqueia como pode
Mas quando sopro
Ela dança
Quando sambo
Ela bossa
Vou a bordo
Da renda que a rebordeia
Dançando se rende
Flutua enquanto entro
Brinco e parto
Onde há fogo
Espalho
Se ela gosta
Eu paro
Posto que o sol
Velho curandeiro
Cora cinzas
Que espalho
ÁUDIO
Leitmotiv
O timbre que te retrata
Nem é o do violão.
De samba
Não tens nada
Nem de bossa
Nem de baião.
É o contraponto
De uma fuga
Mal tocada.
Dissonante percussão.
Allegro marcato.
Vem na cadência
De allegretto.
Sai num largo
Fado.
Saiba portanto,
Grande acidente:
O tempo,
Quando paciente,
É bequadro.
ÁUDIO
Tomara
Rudemente,
Algo dócil
Vir a tona,
Dos teus beijos
Docilmete rudes
Virão ematomas
Ao passo que entorno
Teu veneno escorrendo
No canto da boca
Que me toma
O brio,
O frio,
O recato
E a roupa.
Finge dor
A boca salga
E a mão dormente
Contém.
Quem mareja
Inda corre
A poesia falha que
A que dorme
Detém.
Até que,
Folha a fora,
Molha o olho nu
E desembaça o texto
Ilegível agora
Por meu choro
Convés
À beira-rio,
Incendeia-se
O corpo,
A água
Que a lua
De luz esguia
Clareia no porto,
Canta
Que nem sopro
De vento afoito.
Camba-te o dorso
Largo,
Apoiado em cadeiras
Sentadas,
Em pernas trançando
Traçando,
Palavra na areia
Com os pés:
Uma pena não ver meu navio
Enquanto piso o convés.
Riso preto
Como o vapor
regozijando
Em vales de amor
Até que um sussurro
no ouvido
Sejam frases
Da alma.
Quero que
Munida de coragem
Salte
E o voar
Te invada em vida.
E então,
Iremos.
Quando fores,
Quero que te encontre
E se encontrando,
Que te façam bem.
Desejo que sorria
Como sorri.
Refuga
Com que você vai embora.
Tão fugaz que soa fuga.
Me poupe desse espanto.
Recuo basta
Para tanta recusa.
Doravante
Eis que surte surto
Depois do susto
De se abster de um vicio antigo
E se embriagar de lucidez
Que supre o não poder,
Que poda o apetite
Que não se pode ter.
Eis que sute surto
Dentro de mim.
E assim
Cheia de descuido
Cheia de pôr fim
Em tudo que não há
Findo.
Contudo
O sangue da tua alma aberta
Matei tua sede
Curei tua dor
Te costurei
Quando sentias rasgada
Da cabeça aos pés
Agora
Já curada
Tu me rasgas
Me dói
Me abre
E não cede
Quem olha tua ferida
Hoje já fechada
Não sabe donde
A linha alinhavada veio
Nem onde o vazio
Da tua veia lacerada vaza.
Sofisma
Não sentir teu cheiro
No vento que a porta faz
Quando fecha
Para não abrir mais;
Nem levar abraço;
Nem deixar apego;
Nem olhar pra trás.
Foi bom
Teu menoscabo
De quando fui
Querendo ficar.
Tua boca
Não vale o passo
Que dirá meu caminhar.
Rogo rouco
Do teu poder sem permissão,
Do abraço cheio de mãos,
Das premissas sem conclusão.
Sinto ainda o frio que fazia.
Da poesia e da barriga fria.
Sinto ainda
O que sentia sei lá quando.
Ando lembrando
Do quanto eu queria.
E sem poder;
Sem permissão;
Sem abraço;
Sem mão;
Ainda quero os olhos
Sob os quais eu diria:
Sei que vou
Me arrepender um dia,
Mas quando bater na porta
A dona agonia,
Peço-te só mais um olhar
Daqueles de fotografia.
Finito
Acabou o luzeiro
Mas acabou a dor.
Foi embora o gosto,
Levou pra longe o cheiro
E o dom de me enlevar.
Não tem o mesmo som
A voz que me entorpecia,
Olhar que eu tanto queria.
Se já não é como antes,
Ou deixei de ser miragem
Ou deixaste de ser mirante.
Cinese
Em que cais deixei meu corpo,
Nem em que porto deixei minha paz.
Absorta, noto-te quando
Em meus devaneios cais
Bordando lágrimas em meu rosto.
Sem gosto, logo sais.
Levaste o brio
Desta têz costurada com tristeza.
Deixaste rastro de sombra
E memória rasa.
Em todo corpo que lembra,
Há olho que vaza.
Modorra
Tem o pé no pecado.
O afã quase acre
Ruma num prado
O berço de rama.
Cala esticado.
Poucas palavras permeiam
Um mutismo picado;
Um silêncio inquieto
Depois do riso letargo
Que ecoa
De canto em quina,
Do chão a sanca do quarto.
O afago na cama
Cala esticado.
Epílogo
Ao corpo que vive
Porque a morte do corpo
Na presença do amor
Reclama força,
Bravura e tento.
Enquanto te desejam força,
Eu te ofereço ombro
E te desejo tempo.
À meia luz
De choro, suor
E o que mais imaginar
Faz falta alagar teus poros
Portanto eu lhe imploro:
Não me faça esperar.
Fôlego
Reza a lenda que tal criatura te prende no peito de um jeito tão cômodo a fim de te ouvir pedir pra não te soltar. E você fica.
Criado mudo
O erro de quem não soube criar.
Se o criador não soube dar jeito,
Além da causa, dê a ele o efeito,
E tira de mim o peso
Deste falso dever de suster,
De carregar.
Se o criador foi quem criou
A dor da cria,
Não me interessa a intenção,
Não importa no que eu cria,
Não preciso de um guia,
Tampouco explicação.
Ação, dor e cria.
A dor se uniu a Cria
Pela ação do criador.
A ação se uniu a Cria
Pela dor da criação.
A ação se uniu a dor
E criou a adoração.
Finda esta tortura.
Quem surgiu primeiro
Criador ou Criatura?
Afilar-se
Não há chão onde eu quero estar
Não há lugar pra mim
No lugar onde tem ar
Não há chão
Não há lugar
Nem ar
Não
Escâncara
E tua boca seja a causa da saliva que me vem
E só de te ver me vem o gosto da rotina
De me ver refletida na retina que me retém.
Mal de água salgada
Não deixa de lado o ensejo de te fazer chorar,
Só para depois te dar um beijo
Roçando a água salgada,
Fingindo se afogar.
Qui è tutto
Que tudo aqui é alegria,
E a destreza da tristeza
Não cabe neste dia;
Não se serve nesta mesa.
Verve
Zine OrFEL
Debrum
Me fita feito
Puta de bordel
Entrelaça e me evita
Pinta
Borda,
Me cobre com véu
Depois me rasga
O talho,
Cobre de fel
Passa de Maria a Madalena;
De passamanaria
A nó de juta
A rameira
De açucena.
Desce saia
Tece fim
Ter sido trapo
Me fez tecido de cetim.
Coa vida
Na peneira do dia
Que a gente coa?
Silêncios precedem gritos
Que procedem de outros
Que ainda ecoam;
Noética
Só porque exprimo
Com as mãos.
Nem vir me falar de indolência
Enquanto luto
Por esse afeto estulto
Que, inclusive,
Não me assusta
Se me disser não.
Mas não é ético
Ir sem dizer nada;
Alada num céu de imensidão.
Como se calada,
No meu papel te fizesse borrão
Não!
Quero-te cálida;
Em carne e osso;
Quero teu rosto
Roçando meu pescoço
Na manhã pálida.
Não é ético
Me fazer instar
Nem hesitar meu amor por incompreensão
Não obstine!
Por mais que ele seja insosso,
Não te fará esboço
Em meu moleskine
Não é ético
Fazer querer-te
Enquanto incrédula;
Enquanto razão;
Enquanto impecável.
Do excesso
Saudade
Que aborrece meu coração
Emburrece minha mente
E enrubesce minha face?
Ah se você soubesse...
Veria que invadir a minha mente
E mentir para o que aborreces
Não é coisa que se faça.
Em burras terras de amadores
Amador sempre é derrubado
Profissional vive deitado
Mas acontece
Que quando o dia anoitece
A lua sobe e o sol desce
Quem tá deitado
Fita o teto
Olha o vago
Pranteia quieto.
Mas depois vira pro lado
Dorme que nem feto
Padece, padece, padece
Emburra
Mas depois esquece.
O que é, o que é?
Começa com S
Prólogo
Do teu rosto quando ri
Serena o que me inquieta
E quando inquieta me faz rir
Meu olhar percorre os trejeitos
Da boca cheia de lábios
Que sem falar me chama
Roço nos ouvidos que me entende
E já muda
A voz ainda me afana
Farejo a venta dona do olfato
Que percorre minha têz
Ao meu olhar, de fato
De torpor
Já não tenho mais o tato
Nem sei o que dele fez.
E se a essência fosse rotina?
Depois de contemplar lua e estrelas
Engastadas em tamanho breu
E ler Drummond
À beira do fogão
De lenha não mais acesa
Mas ainda quente
Eu dormiria ao som
Do cricrilar dos grilos
Meu sono seria leve
E me traria paz
Meu despertar se daria
Pelas tesourinhas e sabiás
Que cedo
Põem-se a cantar
Cada dia mais vivaz
Selaria o Diamante
Cavalo preto como a noite,
Como o breu que eu contemplara
E sairia galopante
À deriva do mundo
Esquivando de galhos
Que me machucavam
E em meio galhofas e carinhos
Seguiríamos de volta o caminho
A tarde veria o sol se pôr
Com banho de cachoeira
Tocaria Milton
No meu velho violão
Em volta da lareira
Aveludando a voz
Com geladinho rosé
Antes que o tenro bandô
Da cortina de crochê
Me acordasse
Do cochilo na poltrona
Que desperta a soneira
E eu iria pra cama
Depois de um dia tranquilo
E dormiria serena
Ao cricrilar do grilo
Que ainda soa...
Me seria fácil a rotina
Se fosse assim
Tão boa.
Entre vãos
Entre a sanidade
Há vão que te cabe
E em vãos
Há sãos que não sabem
Quem são
E se vão aos vãos
Entre, sou cura
De fato, confesso
Estou farto da ação
De um ser enfático
Apto a ser inepto
Decidir coisas por mim
Quanta loucura!
Quanta fratura!
Por isso tanto durmo
Enquanto o mundo amanhece
Porquanto me enfurno
Ante o mundo que adoece
Entre, loucura!
Há pagãos melhores que santos
E são tantos!
Veria Deus se tivesse quisto
Que isto causaria o pranto
Quando o santo não fosse visto
A culpa é pouca
Mas é tua, vida
Que me arrotou
Na direção errada
E eu segui a rota
Fui rotulada rota
Desde o ventre da loucura
Quanto sensabor!
Quanta sensatez!
Quanta censura!
Cansei de viver
Entre vãos do mundo oco
Me cansa todo esse sufoco
De um dia cheio de vazio
Culpa do meu desbrio
Rotina de um mundo louco
Sandia
E agora rouca
O vão vocifera
O que você fere, são
E ainda assim
Com todo esse alarido
A vida tem me doído
Não me apetece meio pão
Que seja breve
Mas intensa
Se for doída
Que não seja imensa
Que a vida cesse
Entre também, juízo
O que nos difere
É o que nos fere
Nós
O que tenho dentro do peito
Nesse exato momento
Ouvirá silêncio
Talvez o vazio se esvai pela garganta
Onde hoje, há em mim um nó
Talvez se despe quando se canta
O que já não posso mais
Em minhas cordas há um nó
Que não se desata a mãos
Só se desata só; a mão;
Amando ou não
Afrouxo o laço
A cada palavra que escrevo;
A cada texto que faço
Me desfaço
A cada página que passo.
Desato, de certa forma
Esse nó a mão
Penso...
Mas, se eu ousar a musicar
O que tenho dentro do peito
Nesse exato momento,
Ainda haverá silêncio.
"Paleta" alçou vôo
Márcio Pombo e Os Alagaduns no: MySpace | YouTube | Orkut
Tétrico
Escorre pelas mãos
Esvai-se pelo chão
Deturpa a conduta tépida
Em deletéria
O pouco tento que se tem
Finda em pouco tempo
E o que foi até então
Torna-se texto
Paleta
Metade minha
Metade do mar
Estarei em mim até tê-la
Depois
Te trarei metade
Que arde tanto ao me domar
Com ar de quem esconde um ato
E rubras faces de amaranto
Pintar-te
E quando, enfim
Meu corpo todo amarar
Em versos cantar-te
Veraz,
Direi então que amo
Verás
Que de modo singular
Se me amo também Amo alguém
Até que farte
Sim, Gullar.
Metade será arte.
Paráfrase de Traduzir-se de Ferreira Gullar
À deriva
Dessa vez
Vou caminhar
Contra o teu fluxo
Encontra-me
Quando voltar
Perdoe a franqueza,
Mas já sei onde desaguarás
E é fácil fluir a favor do curso
Difícil é manter-se à deriva
Sem nem ter
Com quem contar.
Sobre Cecília
Fera aguerrida
Ata a cilha
Conforme a ferida
E consegue da vida
A sina que quer
Teu excesso
Assevera o sucesso
Que num sopro de vento
É possível cessar
De saída
Aperta a cincha
Inda que o ar
Nao sinta
Pendura o cincerro
Parte
Subindo em altares
E ai de mim
Pobre probo!
Se duvidar
De seus quereres
Haverá desforra:Enfrenta-te
Ou ilha-se
Não vê que sou
Da tropilha
Que te acompanha?
Do jardim
A flor que apanha?
Do andar
o caminho que trilhas?
E porque te acompanho
Amo no entanto?
Por tanto pranto
Quando a decanto
Melhor nem pensar!
Não vês, Cecília?
Carregando
Vidas de preceito vi
A caminho da ruína
Você ainda caminha
Com minha imagem na cabeça
Mas nessa cena
Não sou eu
É a sina
Cria tua
Nunca fui um bom futuro
Meu fardo
É farto de amor pior
De fato
tudo se cura
Com o fado
De se seguir só
E o tempo
Reviro ao relento
Releio o alento quente
No momento
Em que tive
Que te deixar
Nunca fui um bom futuro
Meu fardo
É farto de amor vulgar
Pelo tempo
Que respiro
Sei que esse
Seria mais um
A carregar.
Coleóptero
Da nostalgia que em tê-la eu insistia e dos dias de íntima porfia que
vezes me obrigo esquecer.
Como sempre e hoje mais ainda, a lástima é minha companhia que no
mesmo eito de um lasso andar, procura junto a mim a calmaria ou
qualquer leito em que possa descansar.
Grafite
De longe
Esperando
Teus olhos de céu
Se longe, te invoco
Se perto, te evoco
Amo só no papel